A Ordem dos Pregadores, surgida nas décadas iniciais do século XIII, se engajou ao longo de todo aquele período, na formação de um modelo de si mesma que tinha como principal elemento os estudos. Esse processo foi marcado por embates internos e externos à Ordem, abrangendo não somente, mas, sobretudo, práticas vinculadas à educação e ao estudo. Neste artigo demonstram como a censura direcionada ao próprio aspecto que confere legitimidade à Ordem e à erudição, reforça sua identidade. Para tanto, lançamos mão de alguns conceitos instrumentais para a nossa análise: evidentemente as noções de identidade e censura, mas também, secundariamente, as ideias de liberdade e poder. Nos concentramos na análise de conteúdo realizada por meio do cruzamento de documentos oficiais e nas atas dos Capítulos Gerais e provinciais, para entender a relação entre as várias instâncias de poder internas à Ordem. Valemo-nos igualmente da contextualização daquilo que estes documentos estabeleciam em relação ao cenário intelectual mais amplo, notadamente o cenário universitário do século XIII. Concluímos que, de modo geral, a censura funcionou como uma ferramenta de identidade, muito embora o que se censurava e sua intensidade variasse de acordo com a maior ou menor necessidade de institucionalização e, consequentemente, demarcação da identidade e da Ordem dos Pregadores.
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FORTES, Carolina Celho. “Que ninguém estude Artes ou qualquer doutrina gentílica...”: a censura como instrumento de construção da identidade dominicana no século XIII. Acta Scientiarum. Education, Maringá, v. 36, n. 1, p. 29-35, 20 fev. 2014.