Passado, presente e futuro são três categorias temporais que demarcam a perspectiva da História e a consciência humana. Na Idade Média, a concepção da temporalidade que orientava os medievos em suas ações estava regida pelo ensinamento cristão da época. A Igreja pregava as boas condutadas ao relembrarem as histórias de Cristo, essas que deveriam ser vivenciadas pelo homem em seu tempo presente, para alcançar, no futuro próximo, a salvação eterna. A morte para o homem medieval era vista como viva e presente, na certeza que seria uma passagem para o Outro Mundo. Diante disso, analisamos a concepção do tempo no pós-morte a partir da narrativa visionária do século XII, Visão de Túndalo, que circulou por escrito em Portugal no século XV. A narrativa retrata a história de um cavaleiro pecador, chamado Túndalo que foi considerado como morto por três dias, nesse espaço de tempo a sua alma foi conduzida a percorrer os três reinos eternos do Além Medieval: Inferno, Purgatório e Paraíso. Para cada local, observamos um elemento do tempo, como: a condenação infinita para os pecadores, a expectativa da salvação no reino celeste e a transição para a purgação das penas no Purgatório. O tempo do Além se conectava com o tempo dos vivos, ao ouvirem a história do cavaleiro Túndalo, esses eram educados a refletirem sobre os seus comportamentos no passado, mudá-los no presente para a obtenção do descanso eterno no futuro. Assim, havia uma relação entre o tempo sobrenatural com o mundo terreal, que era essencial para o mundo cristão medieval.
Citação completa
ZIERER, Adriana; MESSIAS, Bianca Trindade. Escatologia e Salvação: o tempo futuro na Visão de Túndalo. LABIRINTO (UNIR), Porto Velho, v. 30, n. 1, p. 105-128, 2019.