“Hwæt! ” Era gritando essa palavra que J. R. R. Tolkien, o genial autor de O Senhor dos Anéis, iniciava suas aulas de inglês antigo na Universidade de Oxford. Os alunos, temerosos, corriam para seus lugares: eles não sabiam que o professor estava apenas recitando os primeiros versos de BEOWULf, o mais célebre poema da literatura anglo-saxônica, composto no século VIII e que até hoje entusiasma leitores no mundo inteiro, de investigadores acadêmicos a fãs de RPG.
Ambientado na Escandinávia dos séculos V e VI, em meio a uma natureza mítica, formada por mares, penhascos, pântanos, cavernas e seres fantásticos saídos das sombras, e tendo como centro da vida social o grandioso “salão do hidromel”, o poema narra os feitos do herói Beowulf, que livra a corte do rei Hrothgar do temível Grendel, um monstro aterrorizante, e, cinquenta anos depois, tem um novo e decisivo confronto, desta vez com um dragão alado. Esta obra de intensa poesia, repleta de imagens inesquecíveis e com ecos da Ilíada, da Eneida, dos Evangelhos, da mitologia nórdica e das grandes sagas germânicas, capturou a imaginação de vários artistas e escritores de nosso tempo, entre eles Jorge Luis Borges, que assina o prefácio deste volume. Publicado em edição bilíngue, Beowulf e outros poemas anglo-saxônicos (séculos VIII-X) conta com a bela e fluente tradução em prosa de Elton Medeiros, autor também das elucidativas notas e de um abrangente posfácio em que contextualiza histórica e literariamente a produção da obra bem como sua recepção, desde a descoberta do manuscrito, em 1705, até os mais recentes desdobramentos da crítica no século XXI.