As sociedades medievais e modernas sofreram a frequência de diversos cataclismos e epidemias. Dentre essas, coube à peste a triste primazia em ceifar um elevado número de vidas, agindo em vagas recorrentes, principalmente a partir de meados do século XIV. Depois da grande epidemia de Peste Negra de 1348, a doença instalou-se no Ocidente, abatendo-o em focos endêmicos segundo datas e regiões variadas até fins do século XVI. Ao longo deste período, Portugal vivenciou, com caráter geral ou local, pelo menos um surto epidêmico por década. Em suma, convívio cotidiano e inquietante com a morte. Se os especialistas de hoje se esforçam por discernir as suas motivações, o que se dirá das populações afligidas? Essas também os tinham, e eles não tardaram a expressar, não hipóteses, mas certezas que buscavam disseminar. Neste artigo, abordaremos as intervenções da realeza portuguesa visando à superação das recorrentes epidemias de peste, que, orientadas pelas concepções religiosa e médica da doença, sustentaram a imagem do Rei Saneador e deram ensejo às primeiras iniciativas da constituição do campo da saúde pública em Portugal.
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BASTOS, Mário Jorge. A realeza e a saúde pública em Portugal (séculos XIV-XVI). Passagens: Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 29-51, jan./abr. 2013.
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