O objetivo deste artigo é apresentar os elementos que auxiliaram a construção da imagem de D. João I, primeiro rei da Dinastia de Avis, por Fernão Lopes. Num período de crença em ideias escatológicas por grupos como os beguinos e franciscanos espirituais, marcado por eventos como a fome e a Peste Negra, uma parte da população portuguesa acreditava na vinda de um governante ideal que traria um novo período de felicidade na terra, apresentado por Lopes como a Sétima Idade. Este também é um momento do Cisma do Ocidente, com dois papas na Cristandade, em Roma e Avignon. Visando legitimar o poder da nova dinastia, o cronista apresenta o rei avisino como o “Messias de Lisboa” e instaurador do Evangelho Português, sendo o único capaz de libertar Portugal do Anticristo, representado pelo rei de Castela, apoiante do papa de Avignon e que pretendia obter para si o trono de Portugal. São enfatizados conceitos relacionados a temas bíblicos, como o de Messias, associado a um rei salvador, vinculado aos monarcas do Antigo Testamento e com analogia a Cristo. Assim, D. João I está associado aos bons reis bíblicos, como Josias, que eram guerreiros, justos e fieis a Iaweh. O cronista apresenta exemplos de “milagres” relacionados a eventos bíblicos, que confirmavam a “eleição” de D. João por Deus, como os ocorridos no cerco de Lisboa (1384) e na Batalha de Aljubarrota (1385).
Citação completa
ZIERER, Adriana. A Influência da Bíblia na Construção da Imagem de D. João I, o 'Messias' de Lisboa. Revista Diálogos Mediterrânicos, [Curitiba], v. 3, p. 124-142, 2012.