Há alguns anos, para exemplificar as transformações ocorridas na Antiguidade Tardia, Peter Brown não fez uso de imagem ou metáfora, mas de um caso concreto: o livro tal como o conhecemos hoje. Como ele sintetizou, somente por volta de 300 o formato do livro em códex suplantou o rolo; somente por volta de 600 sua escrita se assemelhou à nossa, com palavras separadas; e somente por volta de 800 os textos foram pontuados, divididos em parágrafos e escritos de modo uniforme. Nem tudo, porém, foram mudanças: as línguas predominantes continuavam a ser o latim e o grego e muitos desses livros ainda eram ornamentados com imagens. Um dos motivos frequentes era de tipo arquitetônico: colunas, arcos, capitéis, torres, edificações etc. Conjugando uma herança clássica, pagã, com ideias cristãs, essa ornamentação arquitetônica servia a diferentes propósitos – não apenas aos relacionados ao conteúdo iconográfico como também àqueles próprios da organização do livro. A fim de entender a utilização e o modo de funcionamento dessa ornamentação, este estudo propõe analisar um corpus de manuscritos cristãos latinos produzidos, notadamente em Roma, nas Ilhas Britânicas e na Gália de cerca do século V até fins do século VIII.
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PEREIRA, Maria Cristina C. L.. A arquitetura no/do livro na Antiguidade Tardia: a ornamentação dos primeiros códices cristãos latinos. História (São Paulo. Online), v. 36, p. 1-27, 2017