O estudo dos beguinos na Idade Média Tardia adquire, para nós, o aspecto de evidenciador de um quadro social amplo, que marcou significativamente os princípios do século XIV, e que já marcara em larga medida os séculos precedentes. A partir do século XII, observa-se a multiplicação das igrejas paroquiais, bem como o aumento da demanda pela pregação. Desenvolve-se, ainda, uma série de mecanismos de associação, tais como as corporações de ofício, confrarias e Ordens Terceiras. Por um lado, os impulsos da Reforma Monástica haviam sido conduzidos, sobretudo pelos cistercienses, pela cristandade latina, e resultaram em movimentos que apontavam para uma maior participação do corpo social nas manifestações da fé. Por outro lado, encontrava-se relacionada às mudanças sócio-econômicas ocorridas no contexto da desagregação do sistema feudal e dos laços de parentela e do advento da pequena propriedade de exploração familiar, que fracionou o trabalho, reduzindo-o ao quadro familiar entre os séculos XII e XIV. Ao mesmo tempo, desenvolvia-se a vida citadina, com suas múltiplas possibilidades de re-associação. Impunha-se uma necessidade crescente de compensação social, projetada numa assembléia que re-unisse a comunidade.
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MAGALHÃES, Ana Paula. A heresia como forma de resistência à exclusão social: o caso dos Beguinos (sul da França e norte da Itália – 1307–1323). Dimensões, Vitória, n. 22, p. 182-198, 2009.
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