Jean de Mandeville, autor cuja identidade é um mistério para os estudiosos, se não foi figura de carne e osso, foi alguém que conferiu unidade a uma compilação de relatos de viagem e de textos antecedentes, convencendo seus contemporâneos de que ele também havia sido um viajante piedoso, um andarilho de Deus. Para contar sua suposta viagem, Mandeville recolheu relatos, roteiros, crônicas e tratados que circulavam pela Europa do século 14 e, entrelaçando contextos, textos e autores diversos, criou um relato que encena uma experiência religiosa, uma busca de purificação por meio de visita, seja a de lugares palmilhados por Cristo, seja aos celebrizados por terem recebido as relíquias de algum santo, seja àqueles que foram palco de algum notável milagre.
Dosando técnica literária e imaginação religiosa, criou uma imagem do viajante peregrino que não foi menos real do que a de outros que efetivamente se deslocaram.
Citação completa
FRANCA, Susani Silveira Lemos. Viagens de Jean de Mandeville. 1ª ed. Bauru: EDUSC, 2007.