Este texto discute o problema da infidelidade na escolástica medieval e sua retomada pela escolástica colonial. O ponto de partida é a questão da relação entre fé e razão na escolástica de Tomás de Aquino (s. XIII), destacando especialmente a perspectiva de defesa da fé católica frente as demais crenças, como o judaísmo e o islamismo, e as próprias variantes interpretativas do cristianismo, como os cátaros e o averroísmo. O coroamento desta perspectiva interpretativa é a subordinação da razão à fé. Daí a conclusão inusitada: infiéis são aqueles que professam outra fé que não a católica. Por fim, faz-se um breve inventário da atribuição de infidelidade aos indígenas por Antônio Ruiz de Montoya (XVII). Entendemos que o jesuíta não atribui a infidelidade com base no pressuposto de que os indígenas conheciam e depois abandonaram a mensagem cristã (tese do involucrum), o que os tiraria da condição de ignorantes invencíveis. A infidelidade está especialmente vinculada ao abandono de dois sacramentos: o batismo, no lugar do qual persistiam as antigas práticas da idolatria e da antropofagia; e o matrimônio monogâmico, sem o qual se voltava à poliginia.
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ROSSATTO, Noeli Dutra. Razão e pé na Escolástica. Basilíade - Revista de Filosofia, v. 4, n. 8, p. 87-101, 2022.
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