Clericum solitudo facit, non publicum. Segundo a fórmula oriunda da Institutio canonicorum Aquisgranensis (816) o isolamento (solitudo) é a marca distintiva do clero. Tal expressão demonstra a importância da separação como instrumento de ordenação social. Por meio da análise do emprego normativo de alguns termos que compõe o que venho chamando de “vocabulário da solidão”, proponho aqui uma nova explicação, ao mesmo tempo global e específica, para a eficácia social do monasticismo medieval e, em especial, de sua vertente eremítica. O artigo está organizado em quatro partes. Na primeira será apresentada uma breve introdução às questões conceituais necessárias para o desenvolvimento de uma sociologia da religião preocupada com o papel da separação em contexto comunitário. Em seguida, a translatio latina do isolamento “oriental” será abordada. A terceira etapa consistirá em apresentar como a crítica ao isolamento geográfico da Alta Idade Média deu lugar, a partir do século XI, a uma eclesiologia eremítica. Por fim, apresentaremos um estudo detalhado da normatividade da solidão entre os primeiros monges-eremitas cartuxos.
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CASTANHO, Gabriel. Por uma sociologia da solidão medieval: isolamento, sociedade e religião em um contexto normativo monástico (Mundo Latino, séculos IV-XII). Revista Signum, v. 16, n. 1, p. 196-214, 2015.