Poucos historiadores se veem tão pressionados a comprovar a relevância de suas pesquisas quanto aqueles que optam pelo estudo da política. A constatação é ainda mais grave quando consideramos os estudos medievais. A adoção da “Nova História”, e de seus combates contra a “velha história positivista”, como um modelo reverenciado de escrita da história, cristalizou um consenso negativo a respeito de certos temas: as realezas, a Igreja, as relações jurídicas, a governança, as guerras e a violência são, frequentemente, encarados como assuntos ultrapassados, que demandam metodologias simplórias e propiciam apenas abordagens superficiais. No entanto, justamente na obra de um dos principais porta-vozes da “Nova História” podemos encontrar uma avaliação muito diferente. Antes mesmo do auge dos estudos sobre mentalidades e imaginários, Jacques Le Goff advertiu quanto à urgência de repensar o lugar atribuído à história política. Com este artigo buscaremos rememorar este valioso exemplo de crítica historiográfica, aplicando os apontamentos então formulados no estudo das atitudes a respeito da violência e do derramamento de sangue. Para isso analisaremos um episódio protagonizado por um conhecido personagem do século XI: Poppo, o patriarca guerreiro de Aquileia.
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RUST, Leandro. No século XI, um patriarca sangra os cristãos e incendeia altares: as atitudes diante da violentia ou uma inspiração em Jacques Le Goff. Brathair, São Luís, v. 16, n. 1, p. 189-218, 2016.