Em fevereiro de 1130, as muitas diferenças existentes dentro do colégio de cardeais estouraram como uma dupla eleição papal. No curto espaço de tempo de um dia, dois homens foram eleitos, aclamados e coroados em Roma como sucessores de São Pedro. Gregório Papareschi, cardeal diácono de Sant’Angelo, tomou assento na basílica de Latrão com o nome de Inocêncio II. Algumas horas depois, Pedro Pierleoni, cardeal presbítero dos Santos Comes e Damião, foi coberto pelos gestos e fórmulas dos ritos de coroação na basílica de São Pedro e se transformou em papa Anacleto II. Há décadas os historiadores asseguram que a controvérsia dividiu a Cristandade Ocidental mais profundamente do qualquer outro conflito anterior pela tiara papal. E a razão para isto estaria no fato de que o conflito teria sido a mais aguda manifestação política de um profundo choque de espiritualidades, da colisão das diferentes correntes religiosas formadas pelo ideal de purificar a vida cristã medieval. A luta pelo trono de Pedro teria sido a fratura institucional mais agressiva produzida pelas diferenças e polêmicas provocadas pelo ideal eclesiástico de reformar a sociedade cristã. Em oposição a este ponto de vista, este artigo propõe um novo ângulo de estudos para o Cisma papal de 1130, que consiste em demonstrar como a dinâmica e, sobretudo, o desfecho da disputa foram condicionados por compromissos clericais e lealdades políticas gerados pelas redes clientelares mantidas pelos cardeais, e não por alinhamentos de espiritualidades.