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Retórica Sangrenta: pensar a comunidade na Inglaterra do século XIII

Poucos elementos são tão caracteristicamente medievais como o derramamento de sangue. Não é exagero. Imagine um chão coagulado ou a pele chapinhada de vermelho e observe. Pode-se pensar em uma trincheira francesa de 1916 ou no senado romano dos idos de março, mas dificilmente se deixará de conceber a cena com referências medievais, sejam elas uma espada sobre a cota metálica, um castelo como câmara, uma cruz vestindo a armadura, um viking como saqueador ou um inquisidor como torturador. Embora seja alimentada por estereótipos, essa associação não pode ser reduzida a uma compreensão ultrapassada ou uma simplificação grosseira. Não se trata de simples resíduo da reputação “Idade Média, Idade das Trevas”. Afinal, o sangue é, de fato, um elemento recorrente nos registros históricos deixados por aquele período. Há quase um milênio, narrar a realidade ou tentar criar uma memória sobre como as coisas se passavam implicava notar a presença desse líquido vital. Por quê? Eis a pergunta que este artigo tenta responder. Para isso, foi pensado um estudo de caso, uma análise detida sobre a história de um crime ocorrido no reino inglês no início do XIII. Trata-se de uma história sobre o enriquecimento cristão, a identidade do pecado, a natureza do crime, e relevância do duelo, a autoridade do milagre. Uma história pródiga em detalhes, densa em personagens e, como tal, suficiente para que seja testada uma hipótese: na Idade Média, narrar o sangue era uma maneira de pensar a comunidade cristã.

Citação completa

RUST, L. D.. Retórica Sangrenta: pensar a comunidade na Inglaterra do século XIII. BRATHAIR (ONLINE), v. 20, p. 164-190, 2020.