Este artigo reexamina o posto de Ramon Llull na história da pregação da Baixa Idade Média ocidental, tendo em vista as novas abordagens sobre o tema da pregação e sua relação com o espaço do político. Discute-se também o projeto luliano de fundação de uma Ordem militar unificada cuja finalidade era dar suporte à pregação e conversão do infiel consoante a função eclesial da cavalaria cristã. O estudo da concepção luliana de conversão do muçulmano exige uma posição metodológica cuidadosa, uma vez que envolve sentimentos ligados à alteridade, à violência e à intolerância. Diante disso, evitar-se-á qualquer dissociação entre discurso e seus enunciadores, certo de que a violência se origina das relações sociais, não de pensamentos coletivos transistóricos descolados de uma específica situação espaciotemporal. As obras lulianas são apologéticas e polemistas e, por isso, não podem ser tomadas por descrições imediatas de uma suposta mentalidade intolerante ou persecutória, característica de um medievo anárquico, mas, ao contrário, registros, isto é, mediações em que certa retórica está sendo mobilizada para a promoção de interesses de certos sujeitos em detrimento de outros; é um jogo de poder em que alguns sujeitos se autolegitimam enquanto procuram deslegitimar os outros.
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MIATELLO, André Luís Pereira. Pregação e cavalaria no processo de expansão da cristandade latina: o papel da Ordem da Milícia de Ramon Llull (1232-1316). HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, Belo Horizonte, v. 15, n. 48, p. 1151-1190, 30 dez. 2017.