A salvação na Idade Média estava ligada à idéia de viagem. O homem medieval se via como um viajante (homo viator), um caminhante entre dois mundos: a terra efêmera, lugar das tentações e o Paraíso, Reino de Deus e dos seres celestiais. Se o homem conseguisse manter o corpo puro conseguiria a salvação. Se falhasse, sua alma seria condenada, com castigos eternos no Inferno ou provisórios no Purgatório. Era um paradoxo da Idade Média que a alma pudesse ser salva somente pelo corpo, devido à esse sentimento de culpa, proveniente do Pecado Original. Caso o maculasse, sua alma sofreria a danação com castigos eternos no Inferno ou provisórios no Purgatório. Devido a este sentimento de culpa a população buscava a salvação através de uma viagem, como, por exemplo, as peregrinações para atingir a Terra Santa (Jerusalém). Estes deslocamentos eram inseguros (estradas ruins, ameaças de assalto e de doenças) e vistos como uma forma de salvação, na medida em que o peregrino nunca sabia com certeza se iria voltar ou não. Ele desejava sentir em seu corpo o que Cristo e os outros mártires haviam sofrido. Outro meio de salvação era o isolamento do resto da sociedade em busca de uma vida dedicada a Deus, como é o caso de eremitas e monges. Devido ao seu desprezo pelos prazeres terrenos e suas vidas consagradas às orações e jejuns a Deus, eram considerados os mais puros da sociedade terrestre. Os monges beneditinos escreveram Visões com o objetivo de apresentar os castigos e os deleites das almas no Além. Sua intenção era mostrar aos fiéis as normas de comportamento adequado para se atingir a Salvação. Os exempla, como a Visão de Túndalo, mostram os tipos de castigo com base nos sete pecados capitais e as ações para se atingir o Paraíso: dar esmolas, freqüentar missas, dar bens à Igreja e evitar a luxúria. Um elemento comum das visões é a ênfase nas sensações dos órgãos dos sentidos. Por exemplo, fedor no Inferno e perfume no Paraíso. Torturas são explicitadas através de escuridão, gritos e dores, em oposição à claridade, cantos e alegria. Na iconografia, com Os Sete Pecados Capitais, de Bosch e O Juízo Final, de Fra Angelico, a estrutura das visões se confirma. Os topos do Além, no caso do Paraíso, se caracterizam por uma paisagem edênica representada por jardins, cânticos, fontes, anjos e árvores frondosas. Já no Inferno, a geografia pressupõe alguns obstáculos, como caminhos com pontes estreitas, rios ferventes, montanhas, lagos de gelo e monstros. Assim, o indivíduo na Idade Média queria a salvação mais pelo medo do Inferno que pelas glórias do Paraíso, e a alma humana se debatia entre o desejo pelos prazeres e o pavor do abismo infernal.