Os três primeiros cronistas-mores portugueses, profissionais da história a serviço da Coroa, mais do que ordenar um conjunto disperso de fontes apenas para sistematizar e preservar o passado, foram antes responsáveis por construí-lo e legitimá-lo. Instalados num posto de prestígio, como era o de cronista e guarda-mor da Torre do Tombo, esses homens encontraram aí as condições e os instrumentos adequados para escrever o passado, fundando-se na tradição historiográfica greco-romana, na tradição historiográfica em romance, em textos de caráter religioso, doutrinário e filosófico e em documentos oficiais. Desse manancial retiram, em linhas gerais, a inspiração conceitual e metodológica do seu fazer histórico, e nesse mesmo manancial e em outras fontes, como a experiência que vivenciam e testemunhos diversos, recolhem os dados que compõem os seus escritos e os fundamentos para interpretar o mundo. Acronística de Fernão Lopes, Zurara e Rui de Pina rondou os reis e os nobres ou centrou-se neles. No universo desses cronistas, o governante, a governação e as suas estruturas eram, por excelência, a razão de ser da história. Assim, as crônicas procuraram, de um lado, traduzir as aspirações do poder ao qual serviram, de outro, construir a imagem desse poder através da retrospectiva do passado inspirada no presente.
Citação completa
FRANCA, Susani Silveira Lemos. Os reinos dos cronistas medievais. 1ª ed. São Paulo: Annablume, 2006.
Palavras Chave