O fenômeno das Cruzadas (1096-1270) contribuiu decisivamente para diversas transformações do Ocidente medieval. Dentre elas, o fato de levar os cristãos dessa parte do mundo às terras onde Jesus havia vivido. Tal fato fez com que, lentamente, fosse substituída a distante “Luz de Deus” das igrejas românicas, a natureza divina de Deus, pelo mais próximo “Deus Luz” das catedrais góticas, Cristo, natureza humana de Deus, que tocava os seus frequentadores. Isso motivou, dentre outros elementos, a ide ia de se retomar a imitatio Christi, viver à maneira de Cristo. Dentre as várias propostas, uma efetivamente aceita pela Igreja foi a franciscana, intitulada desde então como “ordem mendicante”. Todavia, seu imenso sucesso acabou por acolher inúmeros participantes, o que acabou por descaracterizá-la, trazendo inúmeras necessidades materiais impostas por esse aumento de seus membros. Tal fato não havia passado desapercebidamente pelo pontífice já que o franciscanismo, na pureza de suas ideias, tangenciava a heresia. Perdia-se, dessa forma, aquela que fora a proposta original dos mendicantes. Disto resultou à cisão entre os franciscanos Espirituais e a comunidade, situação que ainda é agravada por posturas mais radicais da sociedade da época, que desejavam a pobreza absoluta, inclusive da Igreja, gestando várias heresias.
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MAGALHÃES, Ana Paula. Os Franciscanos e a Igreja na Idade Média: A Arbor Vitae Crucifixae Iesu de Ubertino de Casale. São Paulo: Intermeios, 2016.