Nos últimos anos, os estudos históricos relacionados às crises da passagem da Antiguidade à Idade Média ganharam fôlego, a partir de demandas relacionadas ao debate público e às próprias inovações do campo de estudos tardoantigos e/ou altomedievais. No âmbito de pesquisas relacionadas à História da Igreja e à “ascensão do cristianismo”, passou-se a destacar o papel dos bispos como “gestores de crises”, a partir do exame de atas conciliares, epístolas e afins.Neste artigo, consideramos como pressuposto que tal gestão pode ser investigada também a partir da análise de sermões: para isso, elegemos dois sermões de Cesário, bispo de Arles (502-542), produzidos em um contexto particularmente conturbado da primeira década de seu bispado, com o cerco à cidade e a devastação dos arredores por forças franco-burgúndias. À luz da teoria sociológica de Bourdieu, indagamos como a prédica do bispo descreveu a ação dos “bárbaros” e como tais sermões se relacionaram a seu projeto pastoral e político.