Este artigo investiga a sucessão pontifícia que ocorreu em meio aos acontecimentos ocorridos entre 1044 e 1046 na cidade de Roma, com foco particular na transferência do poder de Bento IX para Gregório VI. Este episódio foi considerado um dos casos mais notórios de corrupção eclesiástica em todo o século XI e acredita-se que tenha causado indiretamente a Reforma Gregoriana. O objetivo é analisar as interpretações históricas mobilizadas pelas narrativas sobre a incidência do dinheiro neste episódio, assunto que tem suscitado acesos debates historiográficos. Para atingir este objetivo, o artigo considera vários prismas narrativos sobre os acontecimentos ocorridos durante a segunda metade do século XI. O principal argumento apresentado é duplo: primeiro, que o tema do abuso monetário foi caracterizado por uma divisão narrativa; e em segundo lugar, que esta divisão foi ideologicamente determinada por uma certa racionalidade económica. Esta última ideia constitui a principal conclusão sustentada neste texto.