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“Mortos mais que especiais”: mártires e guerreiros no contexto medieval português.

O rito cristão envolve uma série de elementos que foram sendo construídos ao longo do estabelecimento e fortalecimento desta religião. Inicialmente no Império Romano, os corpos dos mártires rememorados por narrativas sublimes, teriam sido responsáveis pela instituição da santidade dos locais de suas tumbas. Uma nova reconfiguração espacial e valorativa destes mortos especiais teriam incorporado os cemitérios ao mundo urbano. Com o fim das perseguições, e a institucionalização do cristianismo enquanto religião oficial o número de martírios teria diminuído sistematicamente. Por desejarem uma experiência mística mais intensa, os fiéis passaram a experimentar novas formas de sofrimento, como a solidão, a autoflagelação e a negação do que consideravam desejos carnais. Com o advento das cruzadas no século XI, paralelamente ao avanço muçulmano na África do Norte, novos desafios foram apresentados ao universo religioso. Agora era preciso reelaborar um perfil de santidade, respaldada pelo exemplo dos primeiros mártires. Uma revivência do morrer por Cristo e pela fé, encontraria no palco africano oportunidade de retomar o significado mais profundo da morte santa. Neste texto pretende-se analisar dois casos específicos que tiveram singularidade, pois referem-se a construções narrativas que alcançariam relevância para além de seu significado puramente religioso. Para tanto foram elencados duas manifestações célebres de martírio tardio, tendo por contexto as lutas entre muçulmanos e cristãos: A vida e a morte dos Mártires de Marrocos e o cativeiro do Infante Santo.

Citação completa

NASCIMENTO, Renata Cristina de Sousa. “Mortos mais que especiais”: mártires e guerreiros no contexto medieval português. Brathair, [S.l.], v. 17, n. 1, págs. 125-136, 2017.