Se no princípio da medievalística brasileira esteve um Verbo profano, esse emanou especialmente de Jacques Le Goff, um dos maiores expoentes da controversa terceira geração de historiadores da Escola dos Annales e autor de obras que abriram enormes avenidas ao conhecimento, em que pesem as muitas discordâncias de perspectivas que possamos humildemente alimentar em relação às estratégias de pavimentação destes caminhos. Partirei, neste artigo, de um brevíssimo trabalho de nosso autor, revisitando uma de suas raras investidas nos primeiros séculos medievais que, ademais, tem por tema as referências ao campesinato na literatura de época (ou melhor, o silêncio delas). Estimulado por suas referências, dedico-me a refletir sobre as razões e estratégias da ocultação do campesinato na história das sociedades pré-capitalistas (da medieval, em particular) para criticar o pessimismo (ou o reacionarismo?) dos confrades que negam até mesmo a possibilidade de escrevermos a sua história! Pretendo, por fim, realçar a importância de fazê-lo tendo em vista, acima de tudo, o fortalecimento das associações e movimentos camponeses da atualidade.
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BASTOS, Mário Jorge. Jacques Le Goff contra as ocultações do campesinato na História Medieval. Brathair, São Luís, v. 16, n. 1, p. 80-96, 2016.