Nós, historiadores, costumamos atribuir significado excessivo aos marcos cronológicos, a considerá-los como contingentes capazes de traduzir as mesmas características de um determinado espaço geográfico durante um longo período de tempo. Aquilo que chamamos de “Alta Idade Média” diz respeito, em sua acepção mais recorrente, à Europa, à Anatólia, ao Oriente Médio e ao norte da África num período compreendido entre os séculos V e X. Devemos, portanto, colocar a seguinte questão: qual é a singularidade presente nessas regiões ao longo desses séculos que justifica essa qualificação? A resposta é distinta segundo a filiação teórico-metodológica de cada autor. Numa abordagem recorrente nos livros didáticos até a década de 1980, em que se dava ênfase à dimensão cronológica do fenômeno, a Alta Idade Média é “simplesmente” o período situado entre a queda de Roma, em 476, e o século XI. Na maior parte dos manuais escolares e dos livros paradidáticos em circulação hoje no Brasil, e também em obras acadêmicas publicadas na Europa ao longo do século XX, a Alta Idade Média é o lócus da formação do feudalismo, uma espécie de antecâmara da Baixa Idade Média.