A religiosidade como parte integrante da vida política e econômica do período medieval já é, hoje, um dado incontestável. No entanto, são relativamente escassos os estudos que façam esta associação para o estudo do meio urbano medieval, onde, como se pretende demonstrar, a religiosidade deve ser pensada não apenas como parte integrante da vida social e política, mas, inclusive, como uma variável nas estratégias de busca e manutenção de status e poder das famílias dirigentes. Isso é visível, por exemplo, através da análise de testamentos e livros de registros de imóveis. A destinação de um maior número de filhos para a vida religiosa nas famílias mais numerosas evidencia uma preocupação com a divisão da herança e manutenção de determinado status social. Já as práticas caritativas, além de seus méritos religiosos, fixavam o nome do doador e sua família na arquitetura e na vida social da cidade e consolidavam sua posição social. Estes são elementos que reforçam a noção de certo pragmatismo na vida religiosa deste período, além de ser mais um indício da influência do modelo de comportamento da nobreza sobre a elite urbana.
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ALMEIDA, Cybele. Entre a religião e a política: famílias dirigentes da cidade de Colônia e suas estratégias de ascensão social na Idade Média tardia. Revista Signum, v. 14, n. 1, p. 152-170, 2013.