Desprezando, por desconhecimento ou simples desinteresse, uma parte considerável da configuração sensitiva do mundo físico, a cartografia medieval manteve um olhar plenamente fixo a uma realidade que muitas vezes transcendia os restritos domínios de uma geografia meramente positiva. Providos de importantes acepções instrumentais, ainda que bem distantes das funcionalidades que atualmente atribuímos as nossas imagines mundi, os mapas-múndi medievais estão inseridos em um complexo contexto artístico e cultural que orientam todos os significados de sua criação. Por seu gosto enciclopédico, a cartografia medieval tornou possível a representação de personagens bíblicos, históricos e imaginários que estavam dissociados no tempo e no espaço, não existindo, portanto, uma linearidade histórica bem definida. Portanto, contemplando-os em seus estatutos específicos, o presente estudo se fundamenta na análise comparatista de três manuscritos do século XIII: os mapas-múndi de Ebstorf (1236), do Saltério (c. 1265) e de Hereford (c. 1290). A apreciação destes manuscritos evidencia uma nítida continuidade dos modelos cosmológicos concebidos nos séculos iniciais da Idade Média e permitem-nos traçar uma comparação sistemática de alguns elementos iconográficos e simbólicos expressos nas diferentes formas de representação cartográfica da cidade de Jerusalém.
Citação completa
BORGES, Thiago José. Da sacralidade à centralidade: breve análise comparatista acerca das representações cartográficas da cidade de Jerusalém nos mapas-múndi medievais do século XIII. In: Flávio Miranda; Joana Sequeira (Org.). INCIPIT 1: Workshop de Estudos Medievais da Universidade do Porto, 2009-10. Porto: Universidade do Porto. Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, 2012. p. 31-44.