O presente artigo visa problematizar a construção de certa tradição de leitura documental que se impôs na historiografia sobre a Oração à assembléia dos santos, um discurso do imperador romano Constantino I (306-337) que freqüentemente é utilizado como fonte para o estudo tanto da política imperial deste príncipe como das relações entre Igreja e Império no início do século IV. Pretende-se aqui argumentar que a interpretação usualmente feita deste texto pelos historiadores desde o século XIX tem íntima relação com o próprio modo como ele foi editado e contribuiu, de forma decisiva, para a consolidação do próprio modo como este documento é entendido como fonte atualmente. A proposta deste artigo é apontar alternativas para o estudo deste texto que levem em conta não apenas seu contexto de produção, mas também sua transmissão através dos manuscritos medievais. Como se tentará argumentar aqui, o próprio modo como a Oração aparece nos códices medievais, associada à Vida de Constantino do bispo palestino Eusébio de Cesaréia, pode nos revelar muito sobre a maneira como podemos compreender este discurso.
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DELLA TORRE, Robson. A oração à Assembléia dos Santos do imperador Constantino e a construção historiográfica do imperador cristão. Signum, v. 13, n. 1, p. 1-21, 2012.