Numa primeira investigação sobre a corrupção na Idade Média, que teve por base a análise das denúncias de venalidade de sentenças no poema Contra Indices de Teodulfo de Orléans (m. 821 E.C.), observou-se que o termo, em língua latina, munus (plural munera) é essencial para a compreensão do tema. Isto não só porque a própria palavra que deu origem ao termo “corrupção” em português moderno (corruptio) pouco ocorre na documentação do período, mas também porque os “presentes” (uma das traduções possíveis para munus/ munera) inadequados articularam a ideia de corrupção para o bispo de origem visigótica. Assim, no presente estudo, propõe-se a ampliação da investigação das ocorrências da palavra munus para outros tipos de produção escrita datados dos séculos VIII e IX, especialmente de gênero normativo (como os capitulares e cânones conciliares), a fim de compreender se os termos se ligam também ao campo semântico da corrupção nestes documentos, e também para explorar o teor das medidas expedidas pelas autoridades laicas e eclesiásticas a este respeito. Neste sentido, a proposta desta comunicação é apresentar um exame preliminar do vocabulário empregado para descrever a corrupção nas fontes normativas do período carolíngio, mapeando as práticas consideradas corruptas e quais os sujeitos envolvidos em sua realização. Por isso, não se trata apenas da produção de um inventário das práticas consideradas corruptas, mas também de perceber a maneira pela qual o discurso sobre a corrupção foi elaborado na sociedade carolíngia. Por fim, espera-se apontar caminhos para o desenvolvimento futuro da investigação.