O artigo propõe o estudo da cartografia medieval, forma de linguagem integrada ao sistema de comunicação promovido e controlado pela Igreja Tomou-se como exemplo, dois mapas-múndi que se encontram no interior de manuscritos, O Apocalipse de Liébano (Biblioteca Britânica, Ms 11695) e o Imagine Múndi de Honório de Autum (Cambridge, Ms 66); e dois mapas-múndi murais, o de Ebstorf, exposto originalmente, no claustro do mosteiro do mesmo nome (Alemanha) e Hereford que pode ser visto ainda hoje no altar da catedral de Hereford (Inglaterra). Buscou-se demonstrar como os mapas-múndi colocaram em prática a arte de memória, recurso da retórica, repetindo as informações de uma carta para a outra. Os mapas foram orientados para o oriente, mantiveram a tradição Homérica, da terra cercada pelo oceano e a divisão do mundo em três continentes. O sagrado apoderou-se da geografia física situando os lugares bíblicos: no alto, na Ásia, o Paraíso; no centro, Jerusalém Celeste. As demais referências vétero e neo-testamentárias, como a arca de Noé e as cidades de Belém e Babel, foram situadas corretamente, na parte oriental (superior da carta). É no contexto sócio-religioso do mosteiro, em particular nos princípios da Regra Beneditina, que, combatendo o ócio, determinava que ao lado dos trabalhos manuais, o monge reservas-se um momento do dia para a leitura, que é possível compreender a função exercida pelos mapas-múndi no interior dos manuscritos medievais. Os mapas podiam também, servir de instrumento de educação da aristocracia e nobreza no mundo da corte. De forma análoga, é por meio da liturgia que os mapas murais constituem-se não em ornamentos do claustro ou do altar da catedral, mas, em imagens ca-pazes de passar a mensagem maior do cristianismo, a ressurreição e salvação da alma, anunciando o Juízo Final.