Nesta introdução, que apresenta o dossiê da revista História da Historiografia dedicado à Historiografia Medieval, buscamos problematizar o modo como a escrita da história na Idade Média foi conceituada pela sensibilidade histórica ocidental. Desde o século XVIII, com o surgimento do “regime de historicidade moderno” (HARTOG), a historiografia medieval tendeu a ser tratada como anacrônica, fantasiosa, desconcertantemente não confiável, se não essencialmente inexistente. Alternativamente, sugerimos que as representações medievais do passado se tornaram, aos olhos da razão ocidental, “passados subalternos” (CHAKRABARTY). Mas em que medida podemos falar de uma historiografia medieval? A decolonização é uma maneira de pluralizar a consciência histórica para além de um privilégio moderno e ocidental? Ou, por outro lado, inscrever os gêneros narrativos medievais sob o guarda-chuvas genérico de “historiografia” é manobra intelectual que apenas reforça o universalismo? As oito contribuições incluídas neste número da História da Historiografia apontam para possíveis soluções para esses questionamentos. Indo além desse cenário, oferecem um amplo inventário de gêneros e ferramentas analíticas consideradas úteis para enfrentar os desafios levantados pelo engajamento com os passados dos medievais. A diversidade de perspectivas também demonstra como o estudo das representações medievais do passado e seus usos no presente podem mobilizar e fazer coexistir a análise erudita das fontes com abordagens teoricamente orientadas.