Esse artigo objetiva compreender como os atributos de antigas divindades femininas, como as deusas do Crescente Fértil na Antiguidade, são presentificados na virgem Maria num processo de longa duração, através de fontes medievais e contemporâneas. Nos mitos e no imaginário do Antigo Oriente Próximo, as deusas-mãe, como Inanna, estão ligadas aos atributos de guerreiras, à sexualidade, à fertilidade e ao combate, em que passaram por diversas formas de marginalização com o culto à Iahweh. Entretanto, parte de seus atributos são restaurados na imagem da virgem Maria, no que diz respeito à crença num sagrado e divino feminino e nos aspectos de fertilidade, maternidade e guerreira. Para perceber a sobrevivência de tais atributos na mãe de Jesus, iremos analisar as “Cantigas de Santa Maria” (sec. XIII), o livro “As Brumas de Avalon” (1989) e o filme “Io sono con te” (2010). Utilizando como subsídio teórico e metodológico, em uma análise de longa duração, os conceitos de “cultura de presença” de Hans Ulrich Gumbrecht; “alegoria” de Walter Benjamin e “anacronismo” de Georges Didi-Huberman, pretendemos demonstrar nas imagens de Maria (nas referidas fontes) a presença dos atributos das deusas antigas, o que permite entender Maria como a própria deusa.
Citação completa
SILVEIRA, Aline Dias da; BASTOS, Rodolpho Santos; ZDEBSKYI, Janaína. O sagrado feminino entre hebreus e cristãos: das grandes deusas à Maria. Revista de História Comparada, v. 12, n. 2, p. 6-34, 2018.
Palavras Chave