Este artigo pretende tratar especialmente do capítulo X da Vita Sancti Marcelli, momento no qual o dragão “entra em cena”. Décadas atrás Le Goff apontava algumas justificativas para a inserção do dragão nesta hagiografia. Para ele o dragão simbolizava uma prova a ser vencida: a domesticação do local. Não pretendemos rejeitar tal hipótese, pois acreditamos que as reconstruções anteriores não devem ser descartadas por completo. O que almejamos é esboçar novos problemas, interrogar as fontes acerca do que antes não foi interrogado Nesse sentido, lançaremos mão de outra proposição interpretativa sobre este episódio. Acreditamos que a elaboração desta fonte encontra-se envolvida com a questão das relações de poder, eclesiástico e civil, do bispo merovíngio; pois o combate com o dragão inclui-se dentro do quadro multifuncional. Temos neste episódio a legitimação do santo bispo em dois sentidos. Eclesiástico, ao enfrentar o dragão, entre os vários símbolos não podemos esquecer o do diabo; e civil, ao agir como o protetor da comunidade parisiense, uma função que em teoria competia às autoridades civis e políticas.
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CHARRONE, João Paulo. O dragão da Vita Sancti Marcelli sob novas perspectivas. Signum, v. 16, n. 1, p. 176-195, 2015.