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Dom, dominação e santidade na Alta Idade Média ibérica

Em uma célebre passagem dos Grundrisse, Karl Marx, considerando as condições que propiciaram a disseminação do capitalismo, refere-se à importância da dissolução de todas as formas ‘comunitárias’ de produção, em especial daquelas pautadas na dependência pessoal do produtor direto à classe exploradora – fosse essa integrada por grandes proprietários fundiários ou por ‘mestres de ofício’ – expressões ambas essenciais e características das formações sociais feudais do Ocidente medieval. Partindo de tal enunciado de base, e da transcendência que lhe é conferida no processo em questão, o presente texto propõe-se a análise, na complexidade de seus matizes, do estabelecimento e difusão dos vínculos pessoais de dependência e subordinação que caracterizaram a sociedade ibérica da alta Idade Média. Tomando por base a análise das hagiografias elaboradas nos séculos VI e VII – documentos reveladores da vertiginosa disseminação do culto aos santos no período – considerar-se-á o poder de atração social destes e a convergência, para a sua órbita de relações, de distintas classes sociais, bem como a diversa natureza dos vínculos sociais estabelecidos pelos homens santos, preservadas e sacralizadas as desigualdades e as hierarquias sociais em processo de afirmação no contexto em questão.

Citação completa

BASTOS, Mário; PACHÁ, Paulo. Dom, Dominação e Santidade na Alta Idade Média Ibérica. Notandum, Porto; São Paulo, ano 13, n. 24, p. 65-78, set./dez. 2010.