O processo de formação do reino de Portugal foi marcado pelo conflito entre aquele que seria o seu primeiro rei, Afonso Henriques, contra a mãe D. Teresa, o primo Alfonso VII de Leão e Castela, e o inimigo religioso muçulmano. A habilidade política do jovem governante e as vitórias nas diversas frentes de batalha possibilitaram que ele sustentasse seu posicionamento rebelde ante o poder régio leonês, ao mesmo tempo em que lograva ampliar o território português por sobre o espaço controlado pelo Islã, fatores que corroboraram a busca pela autonomia do Condado Portucalense. Embora importantes, essas conquistas não bastavam para sustentar o poder de Afonso Henriques, que recorreu a outras estratégias legitimatórias, dentre elas, o uso e alteração no emprego dos títulos de infante e de rei. A mudança na utilização desses conceitos experimentou uma ruptura em 1140, quando, após vencer os muçulmanos na Batalha de Ourique no ano anterior, o até então infans Alfonsus passou a se denominar Alfonsus rex Portugalensium. Tomando como referencial metodológico a História dos Conceitos, conforme teorizada por Reinhart Koselleck, considera-se que os episódios de modificação no emprego das palavras são capazes de oferecer chaves de leitura para a dinâmica sócio-política, entendimento que toma como base o pressuposto de que todo conceito é ao mesmo tempo fato e indicador das mudanças históricas de um determinando contexto, revelando fenômenos que se encontram para além do campo linguístico. Tomando essa premissa como ponto de partida, o presente artigo recorrerá às fontes medievais, com destaque para os registros régios e documentos chancelares, com o objetivo de demonstrar como os conceitos empregados por Afonso Henriques constituíram parte de suas estratégias para se firmar como rei, fortalecendo e legitimando seus poderes transmitindo-os aos seus herdeiros, assim inaugurando a dinastia de Borgonha no reino de Portugal.